O MELHOR DO MUNDO POSSÍVEL

A volte sorridi, a volte è più dura...

domingo, março 04, 2007

Bucuresti


Escrever acerca de viagens nem sempre é fácil para mim. Primeiro porque me sinto preso por aquele sentimento vazio do regresso e não me apetece escrever. Depois os dias passam e as ideias que tenho para o texto começam também a não fazer grande sentido. Depois não escrevo. Limito-me a relatar aos mais próximos as experiências mais engraçadas ou menos felizes. Têm sido assim as últimas viagens.

No entanto Bucareste foi diferente. E merece ser diferente. Primeiro porque foi a minha primeira incursão ao leste da Europa. Depois porque incluiu uma maratona aérea com paragem em Barcelona. E finalmente porque é preciso mesmo um grande amor por umas cores para fazer um grupo de pessoas deslocar-se tão longe (com os custos inerentes à viagem e os dias de falta no trabalho). E só por isso merece umas linhas.

Bucareste é uma cidade diferente de todas as outras que antes visitei. Tem contrastes enormes entre ricos e pobres. Casas burguesas restauradas que são lindíssimas que fazem paredes-meias com outras totalmente destruídas. Porsche’s e Hummer’s circulam lado a lado com Dacias (os carros romenos que basicamente são modelos Renault com mais de 40 anos), avenidas enormes lado a lado com ruas pequenas e escuras. Dos taxistas nem vou falar muito. Sabia que eram “enganadores” mas nunca esperei tanto. Provavelmente os da Portela ao pé destes são uns meninos de coro.

Mas vamos por partes.

Na viagem de ida correu quase tudo bem. A chegada ao aeroporto e a reunião do pessoal no sítio do costume é sempre aquele momento mágico. Apanhámos um pouco de turbulência no início, mas como não sofremos atrasos na saída de Lisboa não pareceu haver problemas com o curto espaço de tempo (1h30) que tínhamos entre a nossa chegada a Barcelona e a partida para Bucareste. Chegámos a Barcelona e rapidamente procurámos o local para recolher as bagagens. Algum tempo de espera fez temer o pior, no entanto, e após um pequeno sprint para mudar de terminal, verificámos que o voo para Bucareste estava um pouco atrasado e não haveria problemas (tirando a antipatia da polícia espanhola dos detectores de metais). O voo da Wizz Air foi uma agradável surpresa. Os aviões são bastante bons, a viagem correu sem problemas. Pouco depois das 5h (hora local) aterrávamos no aeroporto de Baneasa na capital Romena. E aí começaram as diferenças…

O aeroporto, apesar de internacional, é minúsculo. O controlo de passaportes é anterior à recolha de bagagens (!!!) e isso fez com que o Caneças visse (ou não visse…) que a sua bagagem fosse recolhida por engano por outro passageiro, ou seja, logo à chegada à Roménia o primeiro contratempo (no entanto a bagagem foi devolvida no dia seguinte). Procurámos algumas informações na zona comercial (se é que se pode chamar zona comercial ao espaço circular minúsculo com 3 ou 4 guichets, 1 bar e 2 (!!!) passadeiras para check in. Decidimos arriscar os Táxis para o hotel. Já sabíamos que era uma opção “perigosa” dada a fama dos mesmos. Cerca de 40 euros por táxi (por um percurso que custa cerca de ¼ do valor pago) e a primeira sensação de engano. No hotel tivemos de esperar umas horas pelos quartos. No entanto as horas passaram rapidamente ou no pequeno almoço ou na conversa no hall. Umas horas dormidas e já estávamos prontos a explorar a cidade, isto sem antes o Caneças ter recebido a informação que a sua mala já estava no aeroporto. Mais uma viagem de ida e volta até Baneasa (e mais uma roubalheira de 50€ !!!!). Voltámos ao hotel e estávamos prontos para a cidade.

Bucareste é uma cidade cinzenta. Foi a primeira impressão com que fiquei. Nas centenas de metros que separavam o nosso Hotel da Piata Unirii (uma das principais de Bucareste) vimos de tudo. Os contrastes. Casas burguesas completamente em ruínas, carros que parecem tirados de um filme dos anos 70 ao lado de Hummers e outros carros de luxo, o tribunal moderno mesmo em frente à biblioteca em ruínas e algum lixo nas ruas. A relva queimada pela neve e um rio pequeno e sujo completavam o cenário. Ao longe, enquanto caminhávamos na Boulevard Unirii (uma das principais artérias que leva à Piata homónima) avistávamos o megalómano parlamento romeno. Um edifício mandado construir pelo ditador Ceausescu e que ainda hoje só é suplantado em dimensão pelo Pentágono.

Na Piata Unirii almoçamos num shopping local e encontrei-me com o Petrut, um ultra do Dínamo que tinha conhecido em Lisboa na primeira-mão. Os nossos amigos do Luxemburgo também vieram ter connosco e de repente era uma concentração de “tugas” em pleno Bucareste.

O Petrut decidiu levar-nos ao Sports Bar perto do Estádio do Dínamo. E assim fizemos. Percorremos várias ruas de Bucareste enquanto o sol se abatia e a noite e as luzes começavam a ganhar o seu espaço. As primeiras visitas às lojas mostraram que Bucareste não era assim uma cidade tão barata. Os preços das roupas e calçado eram o mesmos que em Portugal, uma desilusão para as meninas que nos acompanhavam.

Chegamos ao bar. Era numa rua minúscula e escura, no entanto o espaço era agradável (tirando o excesso de fumo). Dezenas de camisolas de futebol, várias TV’s e outros motivos alusivos ao futebol. Era um tipíco “pub da bola” e o pessoal não deixou complementar o resto do cenário com várias rodadas de cerveja. Entretive-me à conversa com o Petrut e com o Cristian, outro ultra do Dínamo que entretanto se juntou a nós. Falávamos sobre bola, ultras, mas sobretudo sobre o pais, sobre as diferenças, o futuro da Roménia, como era possível comprar os exames das faculdades na rua. A conversa prolongou-se na viagem até ao hotel, numa curta viagem de metro (moderníssimo, melhor que o de Lisboa) e nas ruas. Chegados à nossa “casa romena” separámo-nos, agradecendo a simpatia dos nossos novos amigos. Como o resto do grupo tinha ido jantar (ao mítico La Scaletta) e eu e o Caneças estávamos mortos de fome (ficamos mais tempo no bar do que o restante pessoal) decidimos tentar a nossa sorte numa espécie de loja de conveniência perto do restaurante. Foi a nossa primeira experiência de hospitalidade das pessoas humildes. A porta estava fechada, sendo o atendimento feito através de um guichet (estilo bombas de gasolina). No entanto ao ver a dificuldade que tínhamos em tentar manter um diálogo com pessoas de idade que nada percebiam de inglês, deixaram-nos entrar e escolher a nossa “refeição”… Umas bananas !!!

A noite terminou em conversas de hotel. Parte do pessoal tinha ido ao Castelo de Bran (do Drácula) nesse dia e perguntámos infos da viagem… Mas nada nos iria preparar para o dia seguinte…

Tínhamos combinado a saída do Hotel às 9h (a viagem até ao Castelo demorava umas 4h) e os atrasos normais do pessoal fizeram-nos assumir que não iríamos sair de Bucareste tão cedo. Apanhámos o Bus 133 para a Gara Nord (sem pagar obviamente, o que constituiria para mim o único crime passível de ser cometido no país pobre que era a Roménia) que estava obviamente a abarrotar pelas costuras, algo típico nos transportes da cidade. O trânsito igualmente caótico fez com que um carro desse um toque no nosso bus. Discussão tipíca entre condutores, autocarro vazio e a procura de um rumo para a estação, que se traduziu em corridas atrás das pessoas que frequentavam no nosso bus. Uns minutos de espera, o comboio das 10h30 já perdido e eis que vem novamente um Bus. Depois do encaixe entre os corpos presentes no interior do mesmo, lá prosseguimos viagem até à estação.

Chegados à Gara Nord mais um drama… Como explicar à senhora do Guichet (cujo inglês era nulo…) quantos bilhetes queríamos, para onde e em que classe… Entretanto o primo do Vasco (ainda hoje não sei o nome desse companheiro de viagem sui generis) sacou o cartão da CP e tentou explicar “à tuga” que era colega deles em Portugal… Escusado será dizer que só atrasou o processo mais uns minutos, até alguém o convencer que não deveria ter essa intervenção. Hilariante…

Alguns minutos depois e com vários papeis rabiscados e um lento processo de emissão de bilhetes, lá seguimos para o interior da Gare para o nosso pequeno-almoço. O comboio seria às 12h30 (sabíamos que o Castelo fechava às 16h).

A hora de partida chegou e o comboio era… espectacular. Não no sentido moderno, mas no sentido de ser mesmo à filme. Daqueles antigos, com um corredor e os compartimentos todos de um lado, formando pequenas cabines. Houve logo quem tenha feito o paralelismo entre o nosso comboio e o filme “Ultra – Assalto ao Estádio” dos anos 80. Era igualzinho.

A paisagem fora de Bucareste é agradável. Passadas as primeiras zonas residências dos subúrbios entrámos em território de montanhas e neve. Numa das paragens encontramos uns trabalhadores cavando junto à linha. Um deles era uma mulher. Oferecemos cigarros e foi o delírio entre eles. Uma imagem da pura pobreza do país real onde estávamos naquele momento. Carroças puxadas por burros completavam o cenário.

O resto da viagem correu ao ritmo de conversas acerca de tudo um pouco. E chegámos a Brasov.

O grupo do dia anterior tinha-nos alertado para o perigo dos “taxistas” de ocasião em Brasov. Mas também nos tinha dito quanto tinha custado a viagem de ida e volta ao Castelo de Bran. Foi ai que conhecemos o Gabriel. Um “taxista” de ocasião. Ofereceu-nos o serviço de ida e volta por um preço inferior ao que os nossos amigos tinham pago. Concordamos com o preço e condições de pagamento (metade à ida e metade à volta) e partimos para Bran em 3 carros distintos. Fui com o Gabriel e mais pessoal. Pessoal a mais, que fez mesmo que o JP tivesse de viajar na mala do Dacia do Gabriel. A viagem ainda demorava uns 30 minutos e o Gabriel “encheu-nos” de informação agradável acerca da região, da Roménia e da menção que teve como guia no Lonely Planet. O seu maior orgulho. Chegámos a Bran e quando ia pagar metade da viagem ao Gabriel ele disse-nos para só pagarmos no fim sem problemas. Boa imagem.

Chegámos ao Castelo. A primeira impressão confirma a segunda. O castelo não tem nada de especial. Talvez alguma neve completasse melhor a “fotografia”, mas não tivemos essa sorte. Visitámos o seu interior, mobilado, tirámos umas fotos e ainda tivemos tempo para uma guerra de bolas de gelo junto a pequenas casas de madeira que, segundo o Gabriel, serviam como casa para os trabalhadores do castelo. Ah, outra info, o castelo de Bran não é o original do Conde Vlad Tepes, o conhecido conde Drácula. Esse está em ruínas e é um pouco longe dali. Aquele limita-se a ser uma atracção turística com um mini mercado de lembranças no seu sopé. Depois das compras feitas voltámos para junto do Gabriel para regressarmos a Brasov. Mais uma contrariedade. O carro que transportava o …Caneças tinha desaparecido. O Gabriel explicou-nos que não conhecia o condutor de lado nenhum e que apenas ele se tinha oferecido para ajudar no transporte do grande número de passageiros. Recebido o pagamento na totalidade à chegada a Bran (erro dos nosso amigos), foi-se embora. Engolimos um pouco mal a história mas… que remédio ! No entanto o Gabriel foi prestável (e parecia sincero), arranjou novo transporte para o pessoal e lá fomos nós de regresso a Brasov. No caminho o Gabriel desfez-se em desculpas pelo sucedido e contou-nos o seu sonho de construir um hotel em Brasov.

Chegados à estação de Brasov mais uma odisseia para a compra dos bilhetes. A sensação que ficámos era que o nosso bilhete comprado em Bucareste era de ida a volta e sendo assim não tínhamos de gastar mais nada. Fomos fazer tempo para um shopping paredes-meias com a estação já quando estávamos dentro do comboio com menos de 10 minutos para partir, descobrimos que afinal o bilhete não era válido. Diversos sprints até à bilheteira, mais uns diálogos “estranhos” com as funcionárias dos comboios e pronto. Todos a bordo do moderníssimo comboio em direcção a Bucareste. Este, ao contrário do anterior, era um comboio topo de gama, com um funcionário com carrinho de bar e casas de banho higiénicas e modernas. No entanto todos achámos o outro mais confortável…

Passada a viagem de mais de 2h30 regressámos a Bucareste. Curta viagem no 133 de regresso ao Hotel e um jantar no La Scaletta. A nossa pizzaria de eleição. Neste jantar juntaram-se alguns ultras do Dínamo (Nuova Guardia) e o George (ultra que apoia apenas a selecção nacional). Conversas de circunstância e um belo serão. O dia seguinte era o do jogo.

Ocupámos a manhã do dia do jogo com mais uma volta pelo centro e um almoço tardio num restaurante perto da Piata Unirii. Como acordámos tarde não deu para muito mais. No hotel o pessoal dos DV ia-se concentrando e eram distribuídos os bilhetes enquanto aguardávamos pelo Bus que nos ia transportar ao Estádio do Dínamo. As conversas, sorrisos e cervejas circulavam a um ritmo impressionante. A info que o Bus tinha chegado funcionou como uma mola, e todos se dirigiram para o mesmo. A vontade de ir para o jogo era bastante. Afinal, era a razão da nossa presença na Roménia. A viagem foi curta e rápida (sem antes entoarmos cânticos de apoio e improvisados) e o Marco do Luxemburgo nos ter brindado com mais uma sessão de riso com as suas aventuras… O costume.

Chegados ao estádio não tínhamos nenhum ambiente hostil à nossa espera. Apenas uns assobios normais à nossa chegada enquanto cantávamos pelo nosso Benfica…

O estádio do Dínamo era surreal. Nunca tinha estado em estádio assim na Europa. Espartano, com casas de banho iguais às dos concertos rock, enfiado num buraco que nos dias de chuva provavelmente se torna num pântano lamacento… Mas gostei. Gostei do ambiente de apoio dos romenos. Gostei de não ter visto provocações para connosco e gostei do ambiente nos DV. Sempre a apoiar durante os 90 minutos. O Benfica, depois de estar a perder 1-0, deu a volta ao resultado e venceu por 2-1. Assisti a mais uma vitória na Europa (após Liverpool) e todos já faziam contas para poderem ir (ou não…) a Paris na eliminatória seguinte.

O jogo terminou com os jogadores do Dínamo junto às suas curvas a cantar com os adeptos… Loucura !!!

Saímos do estádio sem problemas, curta viagem até ao Hotel e claro… La Scaletta. Para um jantar merecido.

Sexta foi o nosso último dia em Bucareste. Aproveitamos o final da manhã para visitar o parlamento (apenas por fora) e, já com o Petrut, o centro histórico de Budapeste e o Museu de História da Roménia, onde o destaque é o tesouro nacional e uma réplica da Coluna de Trajano (Roma – Piazza Collona) onde está descrita a história da conquista da Dácia pelos Romanos.

Umas compras no Shopping da Piata Unirii, despedidas e uma curta viagem de bus até perto do hotel. E claro… onde seria o último jantar da despedida… La Scaletta. Brindados com uma banda sonora dos anos 80 tivemos a última refeição na Roménia. Fomos ao hotel e pedimos táxis. Mais uma nova luta para não sermos enganados pelo complot “hotel/taxistas” e o meu grupo teve a sorte de um táxi estar ali a passar nesse momento. Pagámos apenas o marcado no taxímetro enquanto todos os outros foram “intrujados à romena”. De volta a Baneasa recebemos a “visita” do George que se veio despedir do contingente português, e cumpridas as formalidades no aeroporto, lá fomos para a minúscula sala de espera (free-shop…onde ????) onde passámos as últimas 2h em solo romeno. Autocarros levaram-nos até ao avião da Wizz Air (ocupámos toda a parte de trás de 1 e fizemo-nos ouvir, como um belo grupo excursionista “tuga”) que nos ia levar a Barcelona. A viagem de 3h passou rapidamente e decidi com mais algum pessoal passar essa noite num hotel do aeroporto, pois a nossa espera pelo voo da Vuelling para Lisboa era superior a 10h (agradeço ao Jorge a marcação do mesmo… Internet na Roménia era complicado…). Hotel e uma boa noite de sono. Dia seguinte o majestoso pequeno-almoço dos Íbis para completar a estadia em Barcelona. Táxi, aeroporto e encontramos o resto do pessoal que lá tinha passado a noite. Formalidades de embarque, uns cafés e compras no free-shop e o Isaías na sala de espera para apanhar o mesmo voo que nós. É claro que informámos o Primo do Vasco (já vos disse que não sei o nome dele ???) da presença do mesmo, de forma a estragar a operação de charme do França para com o antigo craque do SLB. Objectivo cumprido. O Primo é mesmo chato. O voo de regresso a Lisboa foi rápido. Já todos sentíamos saudades da Roménia. A experiência tinha sido boa para todos (se calhar para a Olívia nem tanto…mas tem de aprender a visitar países pobres… lol) e todos desejávamos repeti-la. Á chegada à Portela, o melhor da vida. Os amigos à nossa espera e os abraços e histórias da viagem. Roménia. Visitem. Uma experiência única.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá Ricardo. Estou a trabalhar na Roménia e daí o meu comentário. Em primeiro lugar, dou-te os parabéns pelo teu blog... 5 estrelas. Mas há um pequeno pormenor em relação aos Dacias que não estará 100% correcto. A marca Dacia não é um Renault com mais de 40 anos). Concerteza que também haverá desses, mas a Dacia tem carros recentes e "normais". Esses Dacias que andam nas ruas que aparentam Renaults com 40 anos, têm 4, 5, 6 anos. É verdade, também fiquei admirado. hehe Grande abraço.

22:45  

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